O Senhor Bom Jesus dos Milagres de Machico – Ilha da Madeira – 1803


















“A história do Senhor dos Milagres está indissociável das aluviões que desde cedo fustigaram Machico, fazendo vítimas e grandes estragos, a última das quais no ano de 1956. De todas elas a mais grave, pelo seu grau de destruição, foi a de 9 de Outubro de 1803. Trata-se de uma catástrofe que atingiu toda a Ilha da Madeira, em especial os concelhos de Machico e Funchal. A chover durante alguns dias, pelas nove horas do dia 9 de Outubro parecia que as ribeiras se tinham enchido instantaneamente sendo tão precipitada a sua torrente, que volvendo penedos e troncos d’arvores de extremada grandeza, deo com elles de encontro em pontes, muralhas, e famozos edificios, inumdando huns, e arrojando outros ao mar.


(…) Na margem esquerda da ribeira a água entrou pela Capela da Misericórdia (agora assim chamada por ser a sede desta instituição em Machico) destruindo-a quase por completo e arrastando a imagem do Senhor Jesus Cristo para o mar.


Alguns dias depois uma galera dos Estados Unidos da América que cruzava estas águas encontrou a dita imagem a flutuar em alto mar e veio entregá-la à Sé do Funchal. Porém, conta a tradição popular que a dita galera quis prosseguir viagem levando o Cristo a bordo mas que, quantos mais esforços faziam para seguir viagem mais o barco andava para trás. A solução, foi, portanto, regressar ao Funchal e devolver a imagem.


Era de facto um milagre que no meio de tanta desgraça e destruição se salvara a imagem intacta. Iniciara-se assim a veneração ao Senhor dos Milagres.


A imagem do Cristo Crucificado, que se encontrava fora de casa há dez longos anos, regressou à sua capela no da 15 de Abril de 1913, sendo transportada da Sé até Machico num escaler e, chegando a terra, o povo levou-a em procissão até à sua morada.


(…) A veneração ao Senhor dos Milagres que se iniciara após a terrível aluvião de 9 de Outubro de 1803 passoua ser anualmente assinalada pelas festividades conhecidas como a Festa do Senhor dos Milagres.


(…) Anualmente milhares de pessoas assistem e/ou participam numa das maiores, senão a maior procissão de fé de toda a Ilha da Madeira, a procissão do Senhor dos Milagres, que se realiza na noite de 8 de Outubro. Neste dia a imagem do Senhor Crucificado é levada num andor para a igreja matriz aí permanecendo até o dia seguinte, dia da aluvião, regressando acompanhada de muitos fiéis à sua capela. Os crentes aproveitam para agradecer ao Senhor as benesses a ele solicitadas ao longo do ano. Para tal levam consigo ex-votos e círios a simbolizar o pagamento das dívidas sagradas contraídas em ocasiões de maior aflição e apuro.


Dado que o bairro da Banda d’Além era basicamente um bairro de pescadores o Senhor dos Milagres tornou-se o seu protector. Daí que sejam os pescadores que ainda hoje acompanham a procissão com os archotes e carregam o andor.”





Fonte: * 1803-2003, Memórias de uma Aluvião, Colecção Patrimónios, CMM, 2003





Retirado de: postaisdamadeira.wordpress.com/2015/12/


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