A Revolta da Madeira
PERESTRELLOS PHOTOGRAPHOS
Carro da Cruz Vermelha, em Machico, a transportar feridos para o Funchal| abril de 1931
13 x 18 cm | Negativo simples, vidro | Gelatina e sais de prata
MFM-AV, Inv. PER/5605
Em depósito no ABM
PERESTRELLOS PHOTOGRAPHOS
Tropas governamentais vindas de Machico, a caminho de Santa Cruz | maio de 1931
13 x 18 cm | Negativo simples, vidro | Gelatina sais de prata
MFM-AV, Inv. PER/4044
Em depósito no ABM
A Revolta da Madeira
O Museu de Fotografia da Madeira - Atelier Vicente's assinala hoje os 90 anos da Revolta da Madeira, um levantamento militar de retumbância nacional e internacional, que teve apoio popular, contra o regime da Ditadura Nacional (1926-1933) implantado pelo golpe de 28 de maio de 1926.
O pronunciamento iniciou-se pelas 07h00 de 4 de abril de 1931, numa operação chefiada pelo tenente médico Manuel Ferreira Camões (1898-1963), que envolveu forças de Caçadores 5, Metralhadoras 1, Infantaria 13 e Artilharia 3, que toma o Palácio de São Lourenço, onde são aprisionados os coronéis Silva Leal (Alto Comissário do Governo) e José Maria de Freitas (Governador Militar). O Governador Civil de então, o capitão Almeida Cabaço, é também detido.
Nesse mesmo dia, foi constituída uma Junta Governativa da Madeira, presidida pelo general Sousa Dias (1865-1934) e composta pelos oficiais Armando Hasse Ferreira, Augusto Casimiro, Carlos Bragança Parreira, Carlos Vilhena, Fernando Freiria, Filipe de Sousa, José Mendes dos Reis, Manuel Ferreira Camões e Sebastião Costa, que declara só depor armas assim que o Governo de Lisboa assegure o retorno ao sistema constitucional e o fim da censura.
Os revolucionários obtiveram o apoio imediato da população, que se manifestou favoravelmente no Largo da Restauração, e que já havia protestado veemente contra as políticas económicas restritivas do Estado, na chamada Revolta da Farinha (entre 4 e 9 de fevereiro de 1931). A grave crise económico-financeira que assolava a Madeira e o manancial de deportações para a (e da) ilha, de dissidentes civis e militares que participaram em movimentos insurrecionais (o primeiro ocorreu na Revolta de fevereiro de 1927), propiciou o sucesso inicial da Revolta da Madeira, que teve repercussão em algumas ilhas dos Açores, Guiné Portuguesa, Moçambique e São Tomé, que se sublevaram no mesmo mês. A rápida supressão desses levantamentos por parte do regime, a incapacidade de replicar o pronunciamento no continente e a falta de armamento, irá hipotecar o sucesso da Revolta da Madeira, que, todavia, foi a de mais longa duração (28 dias).
Nesse curto espaço temporal, foi possível reunir a adesão da grande maioria dos partidos políticos locais, e formar um governo provisório onde o General Sousa Dias assumiu o Poder Executivo e Legislativo em acumulação com o Comando Militar da Madeira, secundado pelos coronéis Augusto Freiria (Chefe do Estado Maior) e Mendes dos Reis (Comandante das Forças), e ainda por Ferreira Camões (Delegado das Forças revolucionárias). Foram nomeados como Subsecretários, os cidadãos Dr. Manuel Pestana Júnior (Economia Pública) e Carlos Frazão Sardinha (Comércio e Comunicações). Entre as primeiras ações da Junta Revolucionária da Madeira, encontram-se medidas populistas como a revogação do decreto (da fome)19.273, concessão de empréstimos à indústria de bordados, proibição de especulação sobre bens essenciais e ativação de mecanismos de defesa.
Perante o cenário de conflito armado, as nações estrangeiras com interesses na região acionaram meios, sendo que no dia 8 de abril já se encontrava fundeado na baía do Funchal o cruzador inglês London, com o intuito de proteger os súbditos britânicos e seus bens.
A reação do Estado ganha visibilidade a 7 de abril, altura em que partem forças de Lisboa para dominar a revolta, sob o comando do coronel Fernando Borges. A 24 e 25 desse mês, partem novas expedições para a Madeira, respetivamente sob o comando do Contra-Almirante Magalhães Correia e do Coronel Carneira.
As hostilidades começam no dia 26 de abril, no Caniçal, e nos dias que se seguem ocorrem novos ataques na Calheta, Funchal e Machico, sendo que os combates mais intensos ocorreram no dia 30 (Caniçal e Machico). No dia seguinte, as forças governamentais bombardearam o litoral Sul e tomaram Machico, onde se verificam mortos e feridos. No dia 2 de maio, perante a incapacidade de contrariar as forças governamentais, que atacavam por terra, mar e ar, a Junta Governativa da Madeira, reunida no Porto Novo, envia um telegrama de rendição ao ministro da Marinha. Seguir-se-iam represálias de ordem económico-financeira e penas de degredo em África.
https://cultura.madeira.gov.pt/olhares-sobre-o-passado/2019-revolta-da-madeira.html
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