Fátima do lapinha - Caniçal
A menina na foto com cerca de 15 anos de idade, chama-se Fátima, mais conhecida na vila do Caniçal pel’a “Fátima do lapinha”, no regresso à casa dos seus pais, após, passar algum tempo na brincadeira com as suas amigas, supostamente no “calhau d’areia” onde atualmente se encontra o estaleiro destinado à construção naval ou na praia de calhau ou simplesmente o “calhau”, junto ao antigo cais.
Na imagem constata-se os maxilares inferiores dos cachalotes a servirem de estacas para suportar a latada das vinhas, Junto às ditas estacas eram plantados tomateiros, sendo amarrados posteriormente aos ditos ossos à medida que iam crescendo entre outras leguminosas.
O caminho, presente também na foto, dava acesso à antiga barbearia, nascida primeiramente pela Sra. Matilde Calaça e seu esposo, meus avós maternos. Após o falecimento dos mesmos, os meus pais: o Sr. José dos Santos , alcunhado o “lapinha”, antigo baleeiro , mas que nas horas vagas exercia as funções de barbeiro e a Sra. Matilde Moniz mas conhecida como Maria dos Reis, sendo este último o nome mais usado pelas gentes na vila acima, deram continuidade à dita atividade. Fonte; Sra. Fátima “lapinha” 24/09/25
A barbearia foi iniciada pelo Sr. João Moniz e a Sra. Matilde Calaça, meus avós maternos. Tinha seis anos quando o meu avô acima faleceu. Após o falecimento dos avós, o meu pai, o Sr. José dos Santos , alcunhado o “lapinha”, antigo baleeiro , mas que nas horas vagas exercia as funções de barbeiro casado com a Sra. Matilde Moniz deram continuidade à dita atividade. Trabalhei com o meu pai durante sete anos e fui aprendiz do meu pai até ir para a tropa. O meu irmão Sebastião e o nosso primo João Alves, apelidado o “Juanca” foram também aprendizes do meu pai, iniciaram o dito oficio desde muito novos, aprendizagem que era feita antigamente no seio familiar.
Quando o meu pai exercia a função de barbeiro sozinho havia uma “cadeira de barbeiro” com almofada rotativa, o espaço destinado à barbearia foi alvo de reparações posteriormente ou seja foi aumentado passando a ter duas “cadeiras de barbeiro” e uma cadeirinha de madeira mais alta para as crianças. Cumpri o serviço militar durante vinte e dois meses. Finalizado o mesmo, voltei a trabalhar com o meu pai mais cinco ou seis meses, indo trabalhar posteriormente para a “Casa da Luz” (Empresa de Eletricidade) com vinte e três anos de idade.
O meu irmão Sebastião substituiu-me, o qual passou a trabalhar com o nosso primo “Juanca” na barbearia, juntamente com o meu pai. O Sebastião seguiu as pisadas do nosso pai e a exerce também em part-time, atualmente.
O Sr. Sebastião Moniz, meu tio materno, residente no sitio do Serrado da Igreja tinha uma barbearia à beira-mar e trabalhava por conta própria. Os instrumentos de trabalho do barbeiro eram as lâminas, as navalhas, o género de uma pedra que quando passada na pele servia de desinfetante da barba, pincéis, espanador, as tesouras, os pentes, etc.
A barbearia era um espaço de socialização, mantendo o barbeiro , relações estreitas com os seus clientes. Além de confidente, ali trocavam-se impressões sobre desporto, política ou comentavam-se as novidades do dia. Recordo-me que num ano foram dezanove os praças (mancebos) da nossa freguesia/vila para a tropa e cortámos o cabelo a todos gratuitamente.
Naquele tempo havia duas equipas de futebol na nossa freguesia, atual vila, chamadas: Clube Marítimo constituído na sua maioria por "baleeiros" e mais dois ou três indivíduos residentes nos sítios: Banda da Silva e Serra da Igreja & Sporting formado na sua totalidade por rapazes do sítio do Serrado da Igreja.
Na barbearia do meu pai formou-se o Clube Marítimo. Os jogos eram realizados aos Domingos, às 15 horas, mas habitualmente, antes dos jogos, no espaço, onde se “desfazia ou aparava a barba” e cortava o cabelo, as conversas eram animadas.
No dia da partida futebolística os jogadores equipavam-se na barbearia e o jogo era disputado no campo de terra batida existente próximo à Empresa Baleeira.
O meu pai comprou a segunda Radio/Telefonia existente na nossa freguesia/vila e ouvíamos os relatos dos jogos de futebol, noticias, etc. A primeira pertence presumivelmente ao Sr. Manuel Moreira o “rosquilha”.
O “lapinha” (meu pai) foi arrais de uma baleeira, cortava o cabelo ao Sr. Eleutério Reis, Técnico Superior da Empresa Baleeira, eu também o fiz algumas vezes, tinha uma canoa varada e que era usada sempre que possível para ir à pesca do peixe-fino, dedicava-se à agricultura, etc.
Concluindo “UM HOMEM DOS SETE OFICIOS”. Fonte: José Manuel “lapinha” 24/09/25
Cerca de ossos de baleia, Freguesia do Caniçal 1971. Fonte: Arquivo da Biblioteca da Madeira- ABM
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